Como ambiente para estudo e centros irradiadores de cultura, esses lugares funcionam em diversos pontos da capital mineira.
Elione Cavalcante e Ana
Paula de Paula são frequentadoras assíduas da biblioteca do Centro de Cultura
Lindeia Regina
Discretas, elas são encontradas em toda a capital. De tão
presentes na vida cotidiana de BH, as bibliotecas correm o risco de passar despercebidas.
Mas o público comparece: algumas delas são campeãs de visitação. Este ano, nada
menos de 28 mil leitores têm procurado, mensalmente, a Biblioteca Pública
Estadual Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade. A maioria é estudante, tem de 17
a 30 anos e ensino médio completo. As mulheres predominam.
Calcula-se que uma centena de endereços de instituições
públicas e privadas, com os mais diversos perfis, receba leitores em BH. De
acordo com especialistas, o fato se deve ao bom trabalho desenvolvido em
silêncio, há décadas. “Os números são expressivos, mas precisamos ampliá-los. O
ideal é termos uma biblioteca em cada bairro”, afirma Marina Nogueira Ferraz,
diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais de Minas
Gerais. “Leitura é um direito do cidadão. Quem domina o mundo letrado tem mais
facilidade de se inserir no mundo”, observa.
Fenômeno pouco percebido, houve multiplicação e
descentralização das universidades em BH e várias regiões da capital ganharam
bibliotecas importantes. A UFMG mantém em caráter experimental duas unidades
que funcionam 24 horas por dia nas faculdades de Ciências Econômicas e de
Letras, ambas no câmpus da Pampulha.
“Quem chega a uma biblioteca universitária tem contato com
um ambiente que pode mudar os rumos de sua vida”, afirma Wellington Marçal de
Carvalho, diretor do Sistema de Bibliotecas da UFMG. Para ele, biblioteca de
verdade deve ter instalações, mobiliário e acervos adequados, além de pessoal
qualificado. “Não pode ser um amontado de livros e a placa dizendo que é
biblioteca”, adverte.
Waney Alves Reis coordena a biblioteca do Centro Cultural
Salgado Filho, na Região Oeste de Belo Horizonte. “Oferecemos o que as pessoas
demandam. Quer livro emprestado? Precisa fazer pesquisa? Quer conhecer
literatura? Pode vir. Meu público não sai sem resposta”, garante Waney, que
cadastra de 14 a15 novos leitores por mês, sobretudo de 8 a 16 anos. “É o nosso
forte”, conta ela, ressaltando a clientela acima dos 40 anos, com presença
expressiva de aposentados.
Waney detectou uma novidade: adultos podem até não ser
leitores, mas incentivam os mais novos a ler. “Isso é muito positivo. Vivemos
um momento difícil, marcado pelo consumo de drogas e violência. A literatura
traz algo mais para a vida, é alívio para dia a dia complicado”, analisa.
Marly Diniz busca seus livros no centro cultural do Bairro
Salgado Filho
Marly Eustáquio Diniz, de 63 anos, mora no Salgado Filho. Ao
fazer ioga no centro cultural do bairro, ela descobriu a biblioteca e mergulhou
na literatura brasileira. “Gosto de pegar romances para me distrair, de ler
livros que me deixam alegre e feliz”, conta. Ela adorou 'Memórias de um fusca',
de Origenes Lessa, e ficou impressionada com 'Memórias póstumas de Brás Cubas',
de Machado de Assis. Marly mantém o hábito de ler histórias para a neta. “É
importante ir colocando na cabecinha dela que leitura é importante, inclusive
para o desenvolvimento escolar”, explica.
“Minha vida atual é correr e estudar”, brinca o aposentado
José Adão Pereira Lopes, de 75, sentado numa das mesas do anexo da Biblioteca
Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade. Depois do curso de filosofia, ele está às
voltas com as aulas de francês. “Aqui, o material de consulta é amplo e mais
confiável que a internet”, garante. Rafael Peduti, de 17, estuda matemática na
mesa em frente à de Lopes. “Este local é lugar apropriado para estudar, até melhor
do que em casa. É só você e o livro, não tem distração, barulho”, elogia o
rapaz, às voltas com exames para o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).
Príncipe
A mineira Ana Paula de Paula, de 36, e a maranhense Elione
Cavalcante, de 44, conheceram-se ao levar os filhos a oficinas no Centro de
Cultura Lindeia Regina, na Região do Barreiro. Ambas se cadastraram na
biblioteca. “Até gosto de ler, mas só aqui comecei a pegar livros”, conta Ana,
que adorou O pequeno príncipe, do francês Saint-Exupéry.
Elione passava de ônibus diante do centro cultural quando
viu cartazes anunciando a biblioteca. “Vim porque gosto de ler e não tenho como
comprar livro. Leitura é viagem sem sair do lugar, você vai a outros mundos”,
explica. Além disso, trata-se de “diversão sem gasto”. Elione pegou emprestados
De primeira-dama a prostituta, de Adelaide Carraro, e um livro de Stephen King
que virou filme. Depois de ensaiar escrever um romance, a maranhense agora se
dedica à poesia.
Oferta descentralizada
Belo Horizonte conta com 23 bibliotecas públicas. É a
segunda cidade brasileira com mais equipamentos públicos dessa natureza. São
Paulo tem 132.
Há 15 unidades em centros culturais da capital mineira e em
três regionais da prefeitura, além da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de
Belo Horizonte (na antiga Fafich, no Bairro Santo Antônio) e a unidade que
funciona no Centro de Referência da Moda (na esquina de Avenida Augusto de Lima
com Rua da Bahia, no Centro). Aos domingos, funciona um Ponto de Leitura no
Parque Municipal.
A Fundação Municipal de Cultura calcula que anualmente os
equipamentos ligados à prefeitura atendem 160 mil pessoas, emprestam cerca de
40 mil livros e promovem cerca de 800 atividades, entre oficinas, rodas e
clubes de leitura e palestras de escritores. O acervo conta com 160 mil
volumes.
Em BH, o cidadão conta com bibliotecas no Espaço Cento e
Quatro, Museu de Arte da Pampulha, Museu Histórico Abílio Barreto, Arquivo da
Cidade de Belo Horizonte, Associação Brasileira dos Judeus Descendentes da
Inquisição, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha),
Sesc MG e a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, além de unidades ligadas
às universidades UFMG, Izabela Hendrix, Newton Paiva, Fead, UNA, UFMG, Fumec,
Uemg, PUC Minas, UniBH e Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.
LEITURA DINÂMICA
97%
dos 5,4 mil municípios brasileiros têm biblioteca pública.
61%
dos usuários no Sudeste procuram bibliotecas para pesquisas
escolares.
835
dos 853 municípios mineiros contam com biblioteca pública,
de acordo com o IBGE.
2,12
bibliotecas por 100 mil habitantes na Região Sudeste.
4,14
bibliotecas por 100 mil habitantes em MG, o terceiro estado
no ranking nacional.
Fonte: http://bit.ly/JaugnX
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