A menina que ‘devora’ livros

Kaciane e sua ‘cama’ de livros. Abaixo, um conto escrito por ela

Assim que a tarde começa, Kaciane Caroline Marques chega da escola, almoça com a família e faz o dever escolar. A garotinha de apenas 9 nove anos, no entanto, não usa o resto do tempo para brincar ou fazer curso, como a maioria das crianças de sua idade. Por opção própria, ela descobriu que um mundo maravilhoso se anuncia ao fechar a porta do quarto e escolher um bom livro para ler.

O amor pelas histórias começou há dois anos graças ao incentivo de uma professora da Escola Lydia Sanfelice, onde cursa o quarto ano do ensino fundamental. Sem pretensão, pegou na biblioteca ‘As aventuras de Pedro, o Coelho’, de Beatrix Potter. Foi uma espécie de pedra fundamental para a formação da pequena grande leitora. Com encantamento, descobriu o prazer proporcionado pela leitura.

Rapidamente, devorou as cem páginas do título, mas não parou. Seguiu nesse ritmo. Hoje se orgulha de já ter lido 303 livros, devidamente catalogados em um caderninho mantido com o maior carinho. Já conhece textos de ‘Alice no país das maravilhas’ até ‘A Bela adormecida’. Exigente, não fica só no que é indicado para sua faixa etária. Viaja mais longe. “Não vejo só tema infantil. Gosto de aventura e terror. Romance, não sou muito fã.” Kaciane não sente medo de conhecer enredos com monstros medonhos, extraterrestres engraçadinhos ou seres estranhos que habitam somente o imaginário. “Não tem problema nenhum”, conta, sem segurar o riso sincero. Ela é desinibida, alegre e mostra vocabulário acima da média.

Fala com propriedade de autores e estilos. A intimidade é tanta que já se arrisca a escrever os próprios contos e crônicas, com texto sem erros de português. Mais de 30 ocupam suas gavetas. O projeto é claro: fazer o seu livro. “Meu sonho é publicá-lo quando eu crescer mais”, diz, sem estipular um teto para a empreitada. Já sabe o que quer fazer. “Ser escritora e jornalista.” Com boas doses de orgulho, Adriana Cunha Marques, 37 anos, escuta a filha discorrer sobre um tema tão vasto, rico e apaixonante. Ficou surpresa ao constatar que a caçula se interessou de verdade pelas palavras. Mesmo sem querer, a garota já influenciou os irmãos, Kariane, 13 anos, e Karion, 14. “Eu não lia muito para ela na infância. Não sei para quem puxou.”
Como não pode deixar de ser, a mãe revela os segredos da filha sem parcimônia. Um deles: ninguém pode fazer barulho quando ela começa suas leituras. Kaciane evoca o direito da defesa. “Tem que ficar concentrada para entender a história.” A menina ampliou o hábito para a noite, o que não atrapalha suas vontades. Tem dia que quer ver televisão ou fazer algo diferente. Lê nas férias e em qualquer lugar. Ano passado, ficou 15 dias internada para tratar de uma pneumonia. Para passar o tempo devorou cinco exemplares. Sua dedicação é tamanha que foi agraciada com um prêmio na escola.

Informou a família que não quer ganhar roupas ou brinquedos nas ocasiões especiais. Imagina o que deseja? Ela não tem muitas obras em casa, mas nem por isso deixa de fazer o que gosta. Fez carteirinha na Biblioteca Municipal e pega emprestado com amigos. Um belo exemplo em um País que não tem essa cultura. Kaciane pediu para não espalhar, mas revelou por qual motivo gosta tanto de ler. “A gente aprende muita coisa.” E mudou de assunto.

Como fomentar a leitura

A escola, pública ou particular, geralmente incentiva a criança a ler. Os pais, no entanto, podem e devem participar desse processo de formação dos futuros leitores. É uma forma não só de fomentar a prática em casa, mas também de fortalecer os vínculos. O primeiro passo: comece a ler para seu filho. “Assim, estará preparando-o para esse exercício futuro. A ideia é mostrar que a leitura é gostosa e prazerosa”, afirma Ariane Massicano, coordenadora pedagógica de ensino fundamental em escola particular de Rio Preto.


Ariane explica que a leitura pode ser feita a qualquer tempo, independentemente da idade da criança. Mesmo sem ser alfabetizada, ela entende à sua maneira o que é falado. “Mostre as imagens, brinque e deixe a imaginação tomar conta. Use o livro para ensinar valores.” Segundo Ariane, é importante comprar obras de acordo com o gosto da criança, não dos pais. O processo será facilitado e trará melhores resultados. “Se a rotina for corrida, tire um pouco de tempo para ler à noite. Frequente biblioteca e livraria. Ajude seu filho a criar o hábito da leitura.”

Copa aumenta interesse dos franceses em conhecer Brasil através de livros

Literatura brasileira faz sucesso nas livrarias francesas.
Literatura brasileira faz sucesso nas livrarias francesas.

Assim com em outros países, a Copa do Mundo de futebol desperta o interesse de muitos franceses pelo Brasil. Além das reportagens quase diárias na imprensa, o país está presente nas livrarias francesas que foram invadidas por dezenas de livros de autores brasileiros. No entanto, a maioria das publicações não trata do futebol. Romances, diários de viagem e livros de fotografia estão entre as opções para satisfazer a curiosidade dos franceses sobre o Brasil e seu povo.

Com colaboração de Charlotte Derouin

O autor mais conhecido e que fez mais sucesso na França é Machado de Assis. Nesse ano, algumas reedições dos clássicos brasileiros foram lançadas, como "Vidas Secas" (Vie Aride, na tradução em francês), de Graciliano Ramos, que é a história de uma família nordestina que foge da seca.
"Uma obra muito procurada", diz Michel Chandaigne, dono da livraria Portugaise, em Paris, dedicada aos países de língua portuguesa. "É realmente uma obra-prima, que foi editada há quarenta anos. A nova tradução é muito melhor, realmente este é um livro que faz parte dos cincos grandes livros brasileiros”, avalia.
Os livros de Edney Silvestre,  "Se fecho os olhos" (Si je ferme les yeux, na tradução em francês) e  "A felicidade é fácil" (Le bonheur est facile, na tradução em francês), foram as grandes surpresas deste início do ano, afirma Michel Chandaigne: “há um grande interesse pelos romances policiais. Mas não só por este gênero, mas também por romances políticos e psicológicos. É uma novidade na França porque Edney Silvestre nunca foi traduzido. São dois livros que eu acho muito interessante de descobrir”.

Copa do mundo

Com a proximidade da Copa, os livros sobre o futebol se multiplicaram, confirma Chandaigne. Ele cita o exemplo de "Le football au Brésil" (O futebol no Brasil, em português), uma antologia sobre o esporte da editora Ana Caona, que já fez muitos livros sobre a literatura marginal. "É um pequeno livro muito interessante com textos de grandes autores. São 11 histórias de uma paixão, uma obra muito bem feita”, garante.
A menos de um mês do jogo de abertura, a livraria L’Écailler organizou uma noite especial “Copa do Mundo”, que reuniu vários autores de livros que abordam a temática do futebol. Entre eles está uma biografia não autorizada do craque português Cristiano Ronaldo, dos jornalistas Antoine Grynbaum e Marco Martins.
Em "Cristiano Ronaldo, Gloire, Orgueil et Préjugé" (Cristiano Ronaldo, Glória, Orgulho e Preconceito, em tradução livre), Martins e Grynbaum apresentam um retrato do jogador que é o atual Bola de Ouro da Fifa, através de testemunhos dos familiares.
Outro jornalista, Pierre-Etienne Minonzio, se interessou pelas relações entre música e futebol e lançou "Petit Manuel Musical du Football" (Pequeno Manual Musical do Futebol, em tradução livre). O autor faz referência a diversas canções que falam do esporte mais popular do planeta, entre elas a música “Meio de Campo” de Gilberto Gil, que é uma homenagem ao jogador Afonsinho.

Apaixonados pelo Brasil

Uma série de livros escritos por autores apaixonados pelo Brasil estão fazendo sucesso, conta Michel Chandaigne. Entre eles o livro do escritor Patrick Straumann, "La Meilleure Part, Voyage au Brésil" (A melhor Parte, Viagem ao Brasil, em tradução livre), que é uma viajem literária por várias regiões do país e o "Pepites Brésiliennes" (Pepitas brasileiras, em tradução livre) de Jean-Yves Loude, um etnólogo que viajou por todos os países lusófonos. Depois de escrever sobre Cabo Verde e Lisboa, o especialista fez uma travessia do Brasil e relata seus vários encontros com personalidades famosas e anônimas. "É um livro de grande qualidade”, estima Chandaigne.

Demanda crescente

A demanda de livros sobre o Brasil cresceu na França nos últimos anos, um aumento atribuído também ao desenvolvimento econômico do país. Muitos franceses estão indo para o Brasil para viajar a turismo ou para trabalhar. O fenômeno é observado por Chandaigne: “cada vez mais os franceses querem conhecer o Brasil através dos guias de viagens , mas também através da literatura”.
Os editores estão se preparando para o ano que vem. Em 2015, o Brasil vai ser o país homenageado do Salão do Livro de Paris, um dos maiores eventos literários do mundo.

Por que leitores brasileiros preferem livrarias a bibliotecas?

Quando criança, eu não tinha o hábito de frequentar bibliotecas. Até porque elas não existiam no meu bairro, ou nas redondezas onde eu morava. Mas eu amava ler! Adorava bancas de jornal e livrarias, que eram os lugares onde eu encontrava livros e revistas e podia saciar minha sede de leitura. Depois descobri a biblioteca da escola e passava alguns recreios lá dentro, já que não podia levar os livros pra casa. Lembro de uma excursão da escola à Biblioteca Pública Municipal do Rio de Janeiro, que era muito longe da minha casa. Só me restava comprar os livros mesmo. Passeios a livrarias eram – e ainda são – os meus favoritos!
Foi só depois que me mudei para o Canadá que passei a frequentar bibliotecas públicas e me apaixonei. Tantos livros, tantos recursos disponíveis gratuitamente para o público! Sou frequentadora assídua e sempre trago pra casa mais livros do que posso ler dentro do prazo de entrega.
Como expatriada, comecei a questionar sobre os hábitos de leitura dos brasileiros, em especial sobre o uso de bibliotecas públicas. Depois de muita pesquisa, vi que há sim várias bibliotecas públicas em todo o Brasil. Sim, são escassas, e talvez o acervo não seja o dos mais atraentes ou relevantes, mas o recurso está lá. A pergunta então era: será que o povo usa?
No ano passado, em março, fui ao Rio de Janeiro visitar a família e fiz questão de conhecer uma biblioteca pública. Era quinta-feira. Fui no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da cidade, onde tem uma biblioteca no quinto andar. Fiquei maravilhada com o espaço! Tudo tão novo, tão arrumado! Tão diferente da minha biblioteca universitária na Escola de Comunicação da Praia Vermelha.
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Tive que deixar bolsas na entrada, mostrar identidade e tudo. Sinceramente? Achei que isso já era a primeira barreira para o uso da biblioteca. Entendo a questão da segurança, mas devia haver outra forma de evitar roubo sem ter que obrigar os usuários a deixar seus pertences na porta. (Não preciso nem dizer que isso não existe aqui no Canadá, né? Com exceção de bibliotecas de coleções especiais e materiais raros, claro).
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Fiquei encantada com a biblioteca infantil! Adorei a parede com lombadas de livros, coisa mais linda! Entrei no espaço infantil e encontrei apenas uma mãe com um menino de uns 7 anos talvez. O menino pedia pra mãe ler pra ele. A mãe estava ocupada no seu celular, sem dar atenção ao menino, ignorando o seu pedido. Aquilo me cortou o coração! Uma criança estava ali, sedenta pela leitura, e justamente a pessoa que deveria mais incentivá-lo estava desperdiçando esta oportunidade. Então foi na biblioteca pra quê, alguém pode me explicar?
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Saí de lá e fui ver as outras estantes, com material de pesquisa. Adorei ver o catálogo de fichas, coisa que não vejo mais por aqui, que só consultamos o acervo digitalmente. Vi algumas pessoas estudando em salas de leitura, mas a biblioteca estava bem vazia. Não contei mais de 20 pessoas por lá.
Bem, numa quinta-feira, de manhã, no centro da cidade, como é que eu poderia esperar uma biblioteca cheia, não é mesmo?
Depois do almoço, no mesmo dia, na mesma quinta-feira, eu passei pela porta da Livraria Cultura, na rua Senador Dantas, também no centro da cidade.
A livraria estava LOTADA!
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Na parte infantil tinham algumas famílias com crianças de várias idades, passando pelas estantes e escolhendo livros. Outras sentavam no chão com seus filhos no colo e folheavam livros juntos. Em todos os andares, muita gente. Os caixas, com fila.
E a pergunta: se tem um lugar onde as pessoas podem ter acesso a livros sem pagar um tostão, por que é que preferem gastar dinheiro com os livros em vez de pegar emprestado nas bibliotecas públicas?
Posso imaginar algumas respostas:
1) O acervo das bibliotecas públicas não é adequado e não atende à necessidade do público
Eu sinceramente não tenho ideia de como é feito o gerenciamento do acervo de bibliotecas públicas no Brasil. Elas compram materiais publicados recentemente? Você pode encontrar os best sellers por exemplo? Pelo que vi na biblioteca do CCBB, pelo menos na parte infantil, o acervo não era muito grande. Vi alguns títulos novos, mas a maioria não era. O estado físico das obras também era ruim, com aspecto velho, folhas amareladas, lombadas machucadas. O leitor tem prazer em ler um livro em bom estado. Se o leitor quer ler Nicholas Sparks e não encontra na biblioteca, claro que tem que comprar na livraria (não procurei por este autor naquela biblioteca, então é só um exemplo mesmo).

2) O público não tem conhecimento das bibliotecas públicas
Voltemos ao início do texto, lá quando eu era criança e não tinha a mínima ideia de que poderia existir um espaço de livre acesso aos livros. Biblioteca pra mim era algo que existia na escola e em lugares bem longe da minha casa. Biblioteca pra mim era um lugar onde não se podia falar alto. Biblioteca pra mim era um lugar onde encontrávamos livros velhos, muito antigos, empoeirados e com cheiro de mofo. A minha geração, que teve a mesma experiência que eu tive, provavelmente não vai pensar na biblioteca como opção cultural para levar seus filhos. Esses vão associar livros à livrarias imediatamente.

3) O acesso a bibliotecas é dificultoso
Essa e a última questão estão ligadas. É a questão da escassez. Provavelmente há mais livrarias do que bibliotecas públicas em cidades grandes do Brasil.

Acredito que o acervo deficiente seja uma das principais razões pelas quais o brasileiro prefere comprar o livro do que pegar emprestado. Porque talvez o livro que ele queira ler não esteja na biblioteca. Ou se está, o acesso não é facilitado ou o livro não está em condições boas de uso. Posso estar totalmente enganada, afinal estou longe e não tenho como avaliar essa questão de perto.
Sei que minha amostragem é muito pequena. Eu só visitei uma biblioteca pública. Mas no meu círculo de amizades vejo que essa hipótese não é tão absurda assim. Pouquíssimas pessoas que eu conheço no Brasil, em várias cidades até, têm o hábito de frequentar bibliotecas. Muito mais gente compra livros em livrarias, das pessoas com que me relaciono.
Mas vocês aí, me digam, por que o povo prefere livrarias a bibliotecas? E como podemos inverter essa situação no nosso papel de bibliotecários?

Apenas 35% das escolas brasileiras possuem bibliotecas


Segundo números disponibilizados em primeira mão pelo QEdu, portal aberto e gratuito que passa a oferece dados mais recentes do Censo Escolar 2013 sobre infraestrutura e matrículas de todas as escolas públicas e privadas do Brasil, somente 35% das escolas brasileiras possuem bibliotecas. Para aumentar a quantidade de bibliotecas nas escolas, há um projeto de lei em tramitação que prevê a obrigatoriedade de um acervo com pelo menos um livro por aluno em cada instituição de ensino do país.
Neste ano de 2014, o QEdu também atualizará os microdados do Censo Escolar referentes a taxa de aprovação e abandono escolar e distorção idade-série, como também os dados de evolução do Censo de 2010 até 2013 também estarão visíveis para consulta.
Os dados do Censo Escolar são públicos e disponibilizados para toda a sociedade, devido à importância e necessidade de que estados, municípios e as próprias escolas conheçam melhor a sua realidade e a do local em que estão inseridos. Todos os níveis de ensino são envolvidos: ensino infantil, ensino fundamental, ensino médio e EJA.
No QEdu, o número de alunos matriculados está organizado por etapa escolar. Já os dados de infraestrutura estão divididos em categorias como alimentação, serviços (água, energia, esgoto e coleta de lixo periódica), dependências (biblioteca, cozinha, quadra de esportes, laboratórios, sala de leitura, etc.), equipamentos (DVD, impressora, retroprojetor, televisão e outros), tecnologia (internet e banda larga) e acessibilidade.
Na ferramenta, também são disponibilizadas informações sobre a qualidade do aprendizado em cada escola, município, estado e país a partir do desempenho dos alunos na Prova Brasil.

O projeto é de autoria da startup Meritt em parceria com a Fundação Lemann, instituições essas que construíram o QEdu com o intuito de promover o debate público. A ferramenta auxilia no entendimento do cenário atual da educação brasileira e pode fomentar diferentes abordagens para a melhoria da qualidade do ensino e do aprendizado no país.

Alguns dados chamaram à atenção de estudiosos e educadores do setor, como o dado referente à rede particular de São Paulo, mostrando que ela é a que tem o menor número de escolas equipadas com bibliotecas do país: 39% (em 2011, eram 38%). Na esfera estadual, São Paulo também tem o menor porcentual de escolas com bibliotecas em todo o país: apenas 13% (em 2011, eram 11%). Enquanto isso, as escolas particulares de Acre e Amapá são as mais bem equipadas, com 93% e 89% de instituições com biblioteca, respectivamente.
De acordo com os dados do QEdu, apenas 30% das escolas estaduais do país tem laboratório de ciências, onde estão a grande maioria dos alunos do ensino médio da rede pública; na rede particular, no entanto, esse número é ainda mais baixo, apenas 21% das escolas têm esse laboratório. O dado mostra que, nesse quesito, as escolas privadas estão em pior situação do que as públicas.
A rede particular do DF é a mais preparada em questões de acessibilidade: 85% das escolas têm dependências acessíveis. A rede pública estadual do DF (com 638 escolas) também lidera, indicando total de 60% neste mesmo quesito. A rede particular de São Paulo, por outro lado, tem os menores índices: apenas 11% das 9.974 escolas têm dependências acessíveis (em 2011, esse número era de 9%).
As matrículas em creche cresceram 23% no país: de 2,2 milhões 2011 para 2,7 milhões em 2013. Apenas 58% das escolas do país têm acesso à internet, revelando que mais de 80 mil escolas brasileiras não possuem conexão à rede.

Brasil ganha primeira plataforma de financiamento coletivo literário




Foi lançada nesta segunda-feira, 5, a primeira plataforma de financiamento coletivo voltada exclusivamente para o mercado editorial brasileiro. A Bookstorming, startup idealizada por quatro jovens do Rio de Janeiro, pretende transformar a experiência da compra do livro no país ao trazer para o mercado editorial a ferramenta do crowdfunding. A ideia, que já funciona com sucesso nos Estados Unidos e na Europa, é dar aos leitores o poder de apostar nos livros em que acreditam e que, no processo tradicional de edição, talvez nunca viessem a ser lançados.

"Nós estamos alterando a ordem de produção do livro", afirma a carioca Raquel Maldonado, cofundadora. "Hoje, só existe uma forma de comprar um livro: ir até a livraria e escolher um dos lançamentos. O que fazemos é usar o poder de difusão da internet e convidar o leitor a participar da produção desde o início, quando o livro ainda nem existe. Se acreditar no projeto, ele paga por ele e pode interferir em várias etapas de edição. No fim, recebe em casa um livro exclusivo, que ajudou a criar".

Como acontece em outros tipos de crowdfunding, o livro só começa a ser produzido se um mínimo de apoiadores for atingido no prazo estipulado pela campanha. Caso esse número não seja alcançado, os apoiadores recebem o dinheiro de volta. Isso elimina o risco financeiro da produção do livro e amplia as possibilidades de busca de originais.

Segundo o cofundador Arthur Granado, um dos objetivos da Bookstorming é servir como termômetro para o mercado editorial. "Esta tem se mostrado uma das principais vocações do crowdfunding em todo o mundo, e ela é ainda mais importante em plataformas que se concentram em apenas um mercado. Por conhecermos bem os livros e os leitores brasileiros, nos comprometemos sempre com projetos de qualidade. E quem melhor que o leitor para definir se eles devem ou não sair da ideia?"

O livro

O primeiro projeto da startup já está no ar. Trata-se do livro Desordem - uma antologia de contos de sete autores brasileiros que já passaram pela mídia, ganharam prêmios e elogios, mas que - para os editores da Bookstorming - ainda não receberam a devida atenção. "Acreditamos que este primeiro projeto mostra a força da nossa ideia", afirma Raquel. "Quem pesquisar sobre os autores que buscamos para o livro vai perceber que eles têm tudo a ver com o espírito do financiamento coletivo. São escritores inovadores e ousados, mas ao mesmo tempo maduros. Se até hoje não encontraram o sucesso merecido, é porque ainda não havia um canal pra colocá-los em contato direto com o leitor".

Os autores de Desordem:

- Natércia Pontes: é cearense e mora em São Paulo. Lançou em 2012 o livro de contos Copacabana dreams, pela editora Cosac Naify, que foi finalista do Prêmio Jabuti 2013.

- Paulo Bullar: baiano de 34 anos, publicou em 2002 o livro de contos Húmus pela editora Livros do Mal. Após mais de uma década sem escrever ficção, iniciou o projeto Piratas: ficções históricas, que deve ser concluído em 2015.

- Cristiano Baldi: gaúcho de Caxias do Sul, publicou em 2002 o livro de contos Ou cláviculas, também pela extinta Livros do Mal. Trabalha atualmente em seu primeiro romance.

- Olavo Amaral: nasceu em Porto Alegre e vive no Rio de Janeiro, onde trabalha como pesquisador na área de neurobiologia da memória. É autor dos volumes de contos Estática (IEL-RS, 2006) e Correnteza e escombros (7Letras, 2012), este último, finalista do Prêmio Açorianos 2012.

- Erika Mattos da Veiga: nasceu em Volta Redonda em 1977. Em 2005, morou no Zimbábue, onde escreveu Ressaibo, romance publicado em 2007 pela editora 7Letras. Em 2010, publicou Nona, pela mesma editora.

- Patrick Brock: nasceu no Rio Grande do Sul, cresceu na Bahia e hoje mora em Nova York, de onde escreve para jornais e sites brasileiros. Escreveu dois livros de contos, Velhas fezes (2004) e Textorama (2005), publicados pelo coletivo Edições K, do qual foi um dos fundadores.

- Katherine Funke: nasceu em 1981 em Joinville, Santa Catarina, e mora atualmente na Bahia. Em 2013, teve um conto publicado na antologia Popcorn unterm Zuckerhut, da editora alemã Klaus Wagenbach. Recebeu em 2010 a Bolsa Funarte de Criação Literária pelo inédito Sem pressa e em 2012 a Bolsa Funarte de Interações Estéticas, com a qual finalizou o romance Viagens de Walter (Solisluna, 2013).

Fonte: http://bit.ly/1fU0Pp9