Emanuel Andrade
Comunidade
de Terra Nova, no Sertão de Pernambuco, se mobilizou para lançar o livro de
Fabíola Torres
2/8/2014
Fabíola
tem limitações físicas, mas já pensa no segundo livro
TERRA
NOVA – De segunda à sexta-feira, a menina Fabíola Gonçalves Torres, 14 anos,
pega o transporte escolar junto com a irmã, deixa o Sítio Destino, na zona
rural de Terra Nova, no Sertão de Pernambuco, onde mora com a família, e segue
para Salgueiro, numa viagem de 6 quilômetros, para frequentar a Escola Agrícola
de Umãs. Na unidade escolar, a garota cursa o 7º ano do Ensino Fundamental,
leva uma rotina normal e tira as melhores notas. Apaixonada pela arte de
escrever, com o apoio da escola e de amigos, Fabíola acaba de lançar seu
primeiro livro com um único conto que ela batizou de Difíceis momentos da vida,
em que narra uma história de preconceito racial vivido pela personagem Laila.
Os
educadores, colegas e familiares que convivem com Fabíola fazem de tudo para
ver a garota sempre alegre a realizar seus sonhos diante a fragilidade de sua
saúde. Aos 5 anos de idade, a menina começou a perder a visão. O diagnóstico
foi de grande impacto para a família ao descobrir que ela é portadora do MPS,
uma doença rara de origem genética que afeta todo o organismo, principalmente o
coração, fígado, baço e visão. Por outro lado, a parte cognitiva não é afetada.
Segundo
a pediatra Kátia Arcoverde, que a acompanha no Hospital Regional de Salgueiro,
o tratamento é feito a partir da aplicação de uma enzima que falta em seu
organismo. “Mesmo com seu quadro clínico, Fabíola tem um humor e inteligência
apurados além de um QI acima da média”, comenta. Muitas pessoas a veem como uma
pessoa especial por conta de sua coordenação motora ter sido prejudicada, o que
a faz andar nas pontas dos pés e ter características físicas do nanismo.
Apesar
da doença, Fabíola leva um vida bem normal com apoio da família. Quando decidiu
escrever o livro, começou digitando a história com certa dificuldade. Acabou
conquistando o apoio da irmã para que continuasse os escritos enquanto ela
narrava verbalmente o enredo do livro. A meta da estudante é retomar as aulas
de braile em breve para se comunicar melhor e poder escrever outras histórias.
“Gosto
demais de escrever, se não fosse o problema da visão escreveria todos os dias”,
diz Fabíola, que nos fins de semana ouve histórias infantis, principalmente
escritas por Monteiro Lobato. Outro sonho dela é cursar jornalismo “para ter
contato com pessoas de outras profissões e de fora do país”. Para a
coordenadora da Escola Agrícola de Umãs, Fátima Maia, a cada dia Fabíola supera
as expectativas enquanto aluna que assiste às aulas numa sala regular.
“Todos
têm um carinho especial por ela, que apesar da rotina difícil por conta do
tratamento, sempre se mostra esperançosa com a vida”, diz a educadora. Fabíola
recebe os conteúdos das disciplinas com a ajuda de professores e colegas. Para
publicar o livro, foi feita uma arrecadação na comunidade.
Os
livros estão sendo vendidos desde o dia em que saíram da gráfica para o
lançamento com festa na Vila de Umãs. A garota ficou impressionada com a
repercussão. Já pensa em um novo enredo que se passa no Sertão para compor seu
segundo livro. Com certeza, pretende continuar debatendo a questão do
preconceito que assola a sociedade.
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